O CORAÇÃO DE JESUS É AMOR!

SAGRADO CORAÇÃO DE JESUS

Deus, que conhece o coração do ser humano, em cada tempo suscita homens e devoções conforme as necessidades. Suscitou Abraão para formar um povo novo; Samuel para sarar as desordens de Eli nos seus filhos; Davi para curar os males de Saul; e depois da vinda de Jesus Cristo, suscitou para combater as heresias, doutores santos; diante dos maus costumes, almas santas para chamar de volta ao fervor da vida cristã; e percebendo inúmeras necessidades, também inúmeras são as aparições de Nossa Senhora nos vários lugares do mundo, em que são construídos santuários a ela dedicados: Lourdes, Salette, Aparecida, Pompéia… Todos nos lembram uma necessidade e nos propõem um remédio.

Para as necessidades de hoje, o remédio é a devoção ao Sagrado Coração de Jesus. Esta devoção é dos nossos tempos!

Deus a concedeu como a mais oportuna. Talvez seja porque hoje, em nome de um falso amor, vai se corrompendo tudo aquilo que há de mais sagrado, de mais precioso. Em nome de uma certa delicadeza, aliás, melhor dizer superficialidade do coração, se corrompe a educação, se desculpa aquilo que seria imperdoável, e sob a aparência da compaixão, se abraçam dureza de coração e egoísmo, escondendo o ódio e a falta de amor atrás de uma hipotética filantropia.

Deus nos ensina a devoção ao Sagrado Coração como remédio para os nossos males. Abracemos esta devoção ao Sagrado Coração, antes acolhemo-la em nós, e depois espalhemo-la para todos.

Eis o remédio!

Primeiro, todos nós precisamos desta devoção, e não somente as almas grandes e perfeitas, ou quem está no convento, etc. Mas ouvimos o que diz Jesus: Eu não vim para os justos, mas sim para os pecadores. Os justos podem encontrar no coração de Jesus suas delícias, mas Jesus espera sobretudo os pecadores. Esta é a devoção dos pecadores! Ela é oferecida aos pecadores, para que neles se renovem os prodígios de Deus.

A água que se tornou vinho, a multiplicação dos pães, a cura dos enfermos, a ressurreição dos mortos, só eram prefiguração de outras mudanças e curas…

Se diz hoje que não acontecem mais milagres, mas isso não é verdade! Tem milagres, e ainda teria continuamente, e bem perto de nós. Estão presentes em vocês estas milagrosas mudanças, as incríveis ressurreições não do corpo, mas sim da alma, não da água, mas de uma vida má a uma vida boa. E isso seria suficiente para a devoção ao Sagrado Coração de Jesus.

São Vicente, em suas longas peregrinações, sempre que passasse por perto de uma Igreja onde estava o Santíssimo Sacramento, ele entrava para cumprimentar Jesus. Vendo de longe uma Igreja, ele dizia: “Eis onde está Jesus… lá dentro se encontra Jesus… que sorte a da lâmpada que arde diante de Jesus, por que não sou eu o óleo que se consome para fazer-Lhe companhia?”.

Irmãos, precisamos sentir uma grande dor: dor grave, mas que se tornará gravíssima quanto mais irá ficar longe de nós. Como seria bom sentir logo esta dor! Mas qual é esta dor? É a existência de um tesouro do qual nós podemos receber imensos dons, mas nós nem sequer o conhecemos!

O Senhor dê a todos luz e graça para conhecer este tesouro, porque será grande a dor quando sabendo que estava em nossas mãos, nós o deixamos escapar! Este tesouro é o Sagrado Coração de Jesus, do qual nós podemos receber todo bem, mas que muitas vezes não honramos.

Coração! Só pronunciando este nome, quantas lembranças vem à nossa mente!

Sabemos que o coração material é a sede da vida, a causa da vida, e com seu sangue espalha a vida a todos os membros: até que funciona bem, sempre podemos esperar, mesmo nas graves doenças. Se funcionar mal, já está certa a morte. Mas esta é só a parte material do coração.

Em um sentido mais nobre, quando dizemos coração, nós entendemos o homem por inteiro, os mais belos sentimentos da alma se atribuem ao coração… Quando a alma goza, o coração sente.

Se queremos demonstrar um grande afeto, nós dizemos: você está no meu coração! Queremos expressar um sentimento de adversão? Dizemos: você não mora mais no meu coração! Queremos louvar? Dizemos que a pessoa tem um coração grande e generoso. Queremos nos queixar… Coração vil, coração de pedra.

Nossa Senhora guardava tudo em seu coração, sob o nome de coração se entende o amor, a vontade, por isso sabemos que do coração vêm o bem e o mal. O coração é tudo, seja como parte do corpo humano, mas também como causa de todas as operações.

Se um príncipe andasse pelo campo com um arbusto na mão, para plantá-lo, cavar a terra, regar, etc., com certeza vocês pensariam que aquele arbusto é muito precioso ou lhe é muito querido. Assim é a devoção ao Sagrado Coração.

Jesus quis pessoalmente fazer conhecer esta devoção: devoção que nasce de um coração humano, unido à divindade em unidade de pessoa. Coração humano de Deus, com todas as perfeições de Deus.

Coitados de nós se não conhecêssemos este Coração! Adorar este coração não é desonra, mas glória. Se honra uma espada, porque pertenceu a um herói; uma pena porque foi usada por um distinto escritor. O santuário em que é conservado algum instrumento da paixão de Jesus é objeto de visitas e orações. Mas o que são todos eles, comparados com o Coração do próprio Jesus? Ainda mais, é Ele que vem a nossa procura! Deixemo-nos encontrar!

Nos conforta tanto a parábola da ovelha perdida, porque nos representa. Deixemo-nos, portanto, encontrar. Falemos para Jesus o que São Paulo lhe disse: Senhor, o que queres que eu faça? Nós não viajamos, como Saulo, procurando cristãos para mata-los, mas ele, mesmo sendo pecador, se jogou sinceramente no colo de Jesus, e Jesus o transformou num dos maiores Apóstolos.

Se do coração nasce tudo, até os pensamentos, porém não se conhece o coração se não pelas obras. Para conhecer o Sagrado Coração nós estudamos as obras, e a primeira delas é a encarnação. Para tentar explica-la melhor, pensemos que Jesus ainda não tenha vindo, imaginemos de estar naqueles tempos, quando o Demônio, contente com suas vitórias, achava que o mundo já era dele. Fazia quatro mil anos, tirando algumas exceções, a humanidade estava sendo precipitada no inferno. Apavorados com tanto mal, nós olharíamos para Deus, pedindo que parasse com tudo isso! Deus o concede, mas quer algo digno dele. Mas aqui na terra não se encontra nada digno de Deus, nem ouro, nem nós pobres pecadores… Não nos resta que olhar novamente para o céu e pedir a Deus para ele mande do céu algo digno dele. Deus, em sua infinita bondade, aceita e oferece o único filho, para que se torne homem. Para que isso acontecesse, uma mulher se tornou Mãe, mas imaculada… uma Virgem Mãe. Concebeu santamente o Filho de Deus, foi coberta pela sombra do Espírito Santo, e Jesus se fez homem. Numa só pessoa, duas unidades: Deus e homem, duas vontades, duas operações.

Eis que aquilo que nós não poderíamos nem sequer imaginar, Deus o fez por nós e nós, quase, ficamos indiferentes, e com superficialidade, todo domingo, dizemos quase sem pensar: “Foi concebido por obra do Espírito Santo, nasceu da Virgem Maria…”.

Tornar-se homem, assumir a nossa humanidade, já é prova de amor, que pareceria insuperável, mas Jesus se superou! Tornar-se homem não era suficiente para seu infinito amor.

Olhando para as obras de Jesus nesta terra, é impossível não enxergar nelas a caridade. Tudo, nele, é um entrelaço de amor. Tudo, em Jesus, é uma esplêndida prova de amor!

Vamos tentar entender: quem tem uma dívida, não tem outra forma para ficar livre, a não ser pagar esta dívida. Até que tenha terminado de pagar, não cessa de ser um devedor. O credor, por sua vez, tem o direito de ser pago, e pode obrigar o devedor a pagar, até penhorando suas coisas, citando-o diante dos tribunais… O credor, porém, poderia contentar-se com menos, com alguma coisa do mesmo valor, ou com um valor menor… ou até perdoar-lhe tudo… ele poderia, ele é o patrão, portanto poderia perdoar a dívida!

O ser humano, com o pecado original, recebeu uma dívida enorme e era obrigado a pagá-la. Mas sendo uma dívida infinita, ele permaneceria para sempre um devedor. Com esta dívida não poderia entrar no céu, portanto não poderia salvar-se. Deus era o credor e tinha todo o direito de ser pago inteiramente, porém poderia aceitar outra coisa em troca. Podia também se contentar da metade do valor, ou até renunciar ao pagamento. Mas Deus não quis: quis, pelo contrário, que outro homem pagasse inteiramente a dívida. Este homem não poderia ser um simples homem, porque a dívida era divina. Portanto Deus mandou seu próprio filho.

Jesus Cristo conhecia a ingratidão, mas mesmo assim ele amou; ele experimentou os maus tratos, sabia que teria sido exilado, criticado, não acolhido nem compreendido, caluniado, zombado, perseguido, que o teriam crucificado, mas Ele não deixou de amar o ser humano!

O CORAÇÃO DE JESUS É AMOR! ELE AMA, CONTINUA A AMAR, FAZ O BEM, NÃO RENUNCIA A AMAR, ALIÁS, COM AS OBRAS RESPONDE: QUEREM CALUNIAR-ME? PODEM FAZÊ-LO… EU VOS AMO! QUEREM FLAGELAR-ME? COROAR-ME DE ESPINHOS, PREGAR-ME NUMA CRUZ? FAZEI-O, MAS EU VOS AMO! DEPOIS DE MORTO, AINDA NÃO CONTENTES, QUEREM RASGAR O MEU PEITO? FAÇAM ISSO, MAS EU JAMAIS CESSAREI DE AMAR-VOS!

Meus irmãos, o Coração do Homem Deus é um mistério incompreensível, assim como o nosso coração é incompreensível por ficar indiferente a tanto amor, que ama até quem não merece.

Dizemos que o Coração de Jesus é um mistério… devemos dizer que é um mar, um abismo de amor, portanto, olhando para a paixão de Jesus, não enxerguemos o algoz que o atormenta, mas seu Coração e seu amor, que aceita isso por nós.

Deus amava o ser humano, e o ser humano amava Deus, até que o homem não foi digno de Deus e o negou, tirando de si mesmo a felicidade. Deus então passeia no jardim de Eden, com a familiaridade de um amigo, de um esposo. Deus sofre e espera que o homem se converta, e quando chegou a plenitude dos tempos, ele permitiu que seu Filho se fizesse homem através da encarnação, para renovar os belos momentos do Paraiso Terrestre. Deus se faz presente, próximo do ser humano, mas esta presença era muito reduzida para o Coração de Jesus. A Palestina viu sua presença, mas o resto do mundo, será privado deste incomparável dom? E aquelas milhares de almas espalhadas em todos os pontos do tempo e do espaço, que também sentem necessidade da real presença de Deus, será que não a terão? Isso é impossível! Jesus, vindo na terra, não podia abandoná-las, era necessário permanecer com todos e por todo o sempre.

Um Pai amoroso comunica com seus filhos com cartas, com mensagens, com telegramas… não tenhais medo! Jesus encontrou um meio para permanecer com os seres humanos, seus filhos. A Santíssima Eucaristia, dom do seu Divino Coração, ultrapassa ainda mais a encarnação!

Santo Arcângelo Tadini