HOMILIA SOBRE A SANTA CRUZ

A Cruz! Quanto é grande Deus! A Cruz, objeto de ignomínia e de vergonha… Cruz! Eis o brasão mais glorioso. Oh homens, deponham suas águias, suas lanças, seus símbolos de glória, suas bandeiras. Inclinem a cabeça e ajoelhem-se até o chão. Eis a Cruz, a bandeira de Deus. Venerem, adorem, é a bandeira de Deus.

Mas será que adorar a cruz é idolatria? Não, nossa adoração não para no madeiro, mas sobe, sobe até o Divino, nossos pensamentos mergulham em Deus. Jesus Cristo vive, Jesus Cristo vence, Jesus Cristo reina. Mas este reino Jesus Cristo o conquistou com a Cruz: com a Cruz o promoveu, com a Cruz o conserva. É a Cruz que excita em nós uma doce lembrança daquele Deus que nos amou até o dom de si por nós, morrendo na Cruz. Não adoramos o madeiro em si, mas o altar sobre o qual foi imolada a vítima do amor, o homem Deus, Jesus Cristo. Adoramos aquele sangue preciosíssimo pelo qual toda ela foi banhada… aquelas mãos, aqueles pés que transpassados pelos pregos, quase chegaram a gravar nela as divinas virtudes… Adoramos aquele corpo, obra do Espírito Santo, fruto do ventre da Virgem, que na Cruz, reclinando a cabeça, entregou o espírito.

Portanto, irmãos, fixemos na Cruz o nosso olhar. Eva, aos pés de um madeiro nos traiu, e aos pés de outro madeiro nós aprendemos a sermos salvos. Este é o cajado misterioso e milagroso de Moisés, que triunfa sobre o Faraó e o faz mergulhar com todo seu exército no mar. É a misteriosa serpente de bronze cuja visão é suficiente para curar todas as nossas chagas e feridas mortais.

Oh Cruz, toda banhada pelo sangue de Jesus! Oh Cruz Sagrada, altar de paz, fonte de misericórdia, abrigo dos aflitos, refúgio dos pecadores, esperança, glória e consolação dos cristãos; recebe, neste dia, solenes e públicas homenagens, que como ação de graças todo o povo eleva. Por ti, oh Cruz, a terra é pacificada com o Céu; por ti, oh Cruz, Jesus nos tirou do pecado para a graça, da morte para a vida, da terra para o Paraíso.

Olhemos, portanto, para a Cruz, lembrando, porém, que para o Judeu foi um escândalo, para o gentil uma estupidez. Jesus sobre a Cruz é despido até de suas vestes! Qual espetáculo! Jesus que veste os lírios com seu esplendor, e doa às flores do campo sua graça, Jesus despojado de suas roupas! Aquele corpo adorável, formado pelo Espírito Santo no seio da Puríssima Virgem diante da qual a pureza dos anjos não pode ser comparada, ele exposto a olhares impuros, de soldados desumanos. Oh Querubins, estendeis vossas asas para esconder e cobrir o vosso Criador e Rei em tão vergonhosa nudez!

Jesus, sobre a Cruz, está no meio de dois ladrões; aos pés seus algozes gritam: “Tu que salvastes os outros, salva-te a ti mesmo! Se você é Filho de Deus, desce da Cruz!”.

Oh anjos dos Céus, defendeis a honra do Filho de Deus, do Rei da glória… Desta forma, Jesus, condena o orgulho, assim honra os desprezos, as humilhações. Mas tem mais. A Cruz nos lembra que aquele corpo, já feito uma chaga pela flagelação, esgotado de sangue e forças pelo grave peso que muitas vezes o derrubou, foi golpeado por carrascos desumanos, puxado, quebrado, para estendê-lo naquele leito de dor: às chagas acrescentam-se novas chagas, os pregos transpassam as mãos e os pés, e levantado da terra, se acentuam os sofrimentos, se abrem as feridas, multiplicam-se os tormentos.

Oh Cruz, oh Cruz, tu olhastes para aquela alma Santa, naquele mar de tristeza e de sofrimento, contastes os golpes do martelo, contemplastes aquele rosto, todo molhado de sangue, ficar pálido, abaixar a cabeça, fechar os olhos e morrer. Tu que sustentastes aquele corpo sem vida, elevado entre o Céu e a terra, enquanto o sol se obscurecia… nesta hora abriram-se os sepulcros, rasgava-se a volta do templo. Oh Santa Cruz, tu nos ensinas tudo o que devemos aprender.

Sim. A Cruz, depois de ter-nos mostrado o despojamento total, o desprezo profundo, o amargo tormento do corpo de Jesus, nos é de grande ensinamento.

A Cruz ensina que o pecado é o maior dos males. Nela encontramos um Deus – o Filhinho adorável do Pai, objeto de suas eternas atenções, – que apanha, se dobra, morre pelos golpes da humana justiça, e quase quebrado, o vemos se tornar opróbrio do ser humano, abjeto pelo povo; Ele que não tinha cometido nenhuma culpa, mas assumiu sobre si os nossos pecados!

Aproximemo-nos da Cruz e aos seus pés aprendemos a conhecer o preço infinito da nossa alma. Olhemos Jesus, no caminho do Calvário, caído sob o peso da Cruz: ei-lo no chão sem poder se erguer; aproximemos nos dele, e perguntemos-lhe: “Jesus, por que tantos tormentos?” E ele, levantando o olhar lânguido, dirá: “Tudo isso é para salvar a tua alma!”.

Santo Arcângelo Tadini